Artigo - Chá de Jasmim com magia.

Por um mundo melhor...

Entrámos no séc. XXI com um desenvolvimento tecnológico estrondoso, tanto em inovação como na rapidez com que coisas novas vão surgindo todos os dias. As crianças de hoje já nascem de olhos bem abertos, de 'antenas ligadas' em ambientes repletos de estímulos, também fruto de todo este desenvolvimento tecnológico... um facto magnífico, sem dúvida, se não fosse a falta de proporcionalidade entre este crescimento e o investimento noutras dimensões do desenvolvimento humano, nas questões relativas ao próprio Ser, às emoções, aos afetos, a valores que se vão diluindo na azáfama em que vivemos caindo num profundo poço de esquecimento. A boa notícia é que este poço tem fundo!

Temos é que estar atentos e conscientes da importância desse resgate. No meu livro Chá de Jasmim com magia , da Chiado Editora, proponho uma história de umas férias entre uma avó e cinco netos que pode e deve funcionar como uma ferramenta para pais, avós e professores poderem abordar estes temas com as crianças. «(...) num ambiente que tem tanto de ideal a seguir como de prática a cultivar» (Dr. Vítor Rodrigues - prefácio pág. 6)

Características das crianças de hoje 

Muitas crianças e adolescentes de hoje parecem-nos violentas, insatisfeitas, stressadas, ansiosas, desafiadoras, desatentas, por vezes, com dificuldades de aprendizagem. Mas, desengane-se! As crianças e adolescentes de hoje têm um perfil magnífico. Adquiriram competências que nós não tínhamos nas idades deles. Aqui, o segredo é passarmos a olhá-los com outros olhos e descobrirmos o potencial humano de cada um. Estão a ser o espelho da sociedade em que vivemos, o que lhes estamos a dar como modelos. Apenas estão a solicitar uma mudança de paradigma em educação, estão a dizer-nos que precisam de outros saberes que os ajudem a crescer de forma harmoniosa, com significado para a vida, que os ajudem a resolver problemas de ordem prática e atuais, metodologias que os ajudem a serem autónomos, empreendedores e criativos por motivação, curiosidade e solidariedade e não por imposição, só porque tem que ser, ou apenas pela competitividade. «- Os vossos filhos nunca mais serão os mesmos. Estas férias fizeram-nos crescer por dentro... Aprendam com eles! Serão nomeados Embaixadores das coisas que deviam ser ensinadas às crianças.» (pág. 60)

Inteligência emocional 

E que tal começarmos pelo desenvolvimento da inteligência emocional? A inteligência emocional caracteriza a forma como os indivíduos lidam com as suas emoções e com as emoções dos outros. Isto implica o desenvolvimento da autoconsciência, da motivação, da persistência e da empatia, bem como de competências sociais: cooperação, negociação e liderança (Goleman, 1996).

Em casa ou na escola podemos fazer com que as crianças se tornem aptos a lidar com frustrações, a negociar com os outros, a reconhecerem as suas próprias angústias e medos, a reconhecerem e lidarem com as suas emoções e as dos outros, a saberem como se motivarem e motivarem os outros desenvolvendo o sentido da criatividade. «- Se se habituarem a conhecer o sentimento que estão a ter, melhor poderão escolher se é para guardar, trocar ou resolver. - Concluiu a avó.» (pág. 31).

Filosofia para crianças 

Quando falo, por exemplo, no desenvolvimento da autoconsciência, estou efetivamente a propor que as crianças aprendam logo desde muito cedo sobre quem são, de onde vêm e para onde vão, que aprendam sobre a sua essência. Por vezes, encontro educadores preocupados em que uma criança de 4 anos saiba escrever o nome, mas sem se preocuparem que a criança saiba dizer quem é. A filosofia para crianças serve para alertar sobre o que são os ensinamentos para a vida, transversais a todas as disciplinas, mas que ficam para a vida. Como aprender sobre a própria vida e a morte, o bem e o mal, sobre o que significa viver em sociedade, o que é a liberdade, o saber, como se constrói o conhecimento e formulam opiniões. « - Estão a ver? Afinal, sempre existem diferentes formas de pensar sobre as coisas! - Concluiu a avó que continuou a explicar(...) - E com isso podem aprender que as pessoas não têm que ter sempre as mesmas opiniões. Mas, mais importante ainda, é perceberem que devemos respeitar sempre a opinião dos outros, porque, afinal, até estavam todos certos. Depende do ponto de vista!» (pág 42).

Novas metodologias de desenvolvimento e aprendizagem

Mas, para haver tempo e espaço para a construção de outros saberes relativos às emoções e à filosofia, para a utilização de metodologias ativas, cooperativas e heurísticas dando respostas mais adequadas e eficazes às crianças de hoje, era necessário assistirmos à mudança de paradigma em educação. Como proponho na minha tese de doutoramento, adequar a educação às crianças do séc. XXI pressupõe um ensino onde fará mais sentido agrupar os alunos em função de temas de interesse ou pesquisa do que agrupar por idades ou níveis de ensino; onde a avaliação deixa de ser classificar todos os alunos por números e com as mesmas provas iguais para todos; onde os alunos não têm que saber exatamente os mesmos conteúdos definidos pelo professor ao mesmo tempo e a terem que evoluir todos ao mesmo ritmo; onde já não fará sentido resolverem-se questões individualmente, de memória e sem consulta, mas sim aprenderem-se saberes de ordem prática mediante a descoberta, partilha e construção coletiva numa aprendizagem e crescimento para a vida. Recriar! Pelo bem de todos.

« - Ah! Agora percebo porque é que a tia Lucília está sempre a dizer que a escola devia ser mais democrática. - Lembrou-se a Patrícia.» (pág 49)

«Aqueles pequenos cidadãos já se estavam a sentir cidadãos do mundo.» (pág 52)

Aconselho, então, Chá de Jasmim com magia para começarmos, todos juntos, a construir um mundo melhor. E votos de muita magia na vida...

FIM